Indiferença: Uma Praga Silenciosa
Um mal insidioso, um problema comum que, muitas vezes, passa despercebido ou, pior ainda, é ignorado com displicência. Refiro-me à indiferença.
Muitos a carregam consigo sem sequer se darem conta de sua presença corrosiva. E aqueles que a reconhecem em suas vidas, por vezes, não se importam o suficiente para combatê-la.
Essa apatia sutil, esse desinteresse morno, infelizmente, permeia todas as congregações, minando o fervor e a vitalidade do corpo de Cristo.
Indiferença. O que significa essa palavra que ecoa tão friamente em nossos corações?
Segundo o léxico, é a apatia, a falta de interesse ou preocupação. É caracterizada pela ausência de parcialidade ou viés, mas, neste contexto, assume uma conotação perigosa: a de não ter importância de uma forma ou de outra, sem grande significado. É não ter nenhum sentimento marcante, nenhum interesse particular, resultando em um estado de não ativo ou envolvido. Em suma, a indiferença se manifesta como uma falta de diligência, dedicação e devoção, atitudes e ações que, silenciosamente, gritam: "Eu não me importo!"
Ao longo da história do povo de Deus, a indiferença sempre se mostrou uma adversária implacável.
Lembremos de Lamentações 1:1-12. Judá estava sob a justa ira de Deus, assolada pela calamidade, mas o povo agia como se nada tivesse acontecido, alheio à sua terrível situação espiritual.
Consideremos a chocante realidade descrita em 1 Coríntios 5. No seio da igreja, uma fornicação escandalosa era tolerada, e a comunidade, em vez de se lamentar e agir com justiça, permanecia inerte, sequer perturbada pela gravidade do pecado.
E quem pode esquecer a dura repreensão à igreja de Laodicéia em Apocalipse 3:15-16? Jesus os confronta por sua mornidão espiritual: "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e não és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca." A indiferença os tornava repugnantes aos olhos do Senhor!
Irmãos, a indiferença é como um câncer que se instala sorrateiramente, corroendo a vida de um cristão individual e a saúde de uma igreja local. Ela paralisa o crescimento, esfria o amor e silencia o testemunho.
O povo de Deus, por sua natureza e chamado, deve ser o oposto da indiferença. Devemos ser diligentes, devotados e zelosos na busca do Reino de Deus em primeiro lugar (Mateus 6:33), santificando ao Senhor em nossos corações (1 Pedro 3:15), fervoros no espírito, servindo ao Senhor (Romanos 12:11), colocando tudo o que temos a serviço do Mestre (Colossenses 3:23), realizando com afinco tudo o que estiver ao nosso alcance (Eclesiastes 9:10) e sendo zelosos de boas obras (Tito 2:14).
Mas como essa praga da indiferença se instala em nossos corações e congregações?
I. Sua Sutileza
A indiferença é astuta em sua abordagem.
A. Desenvolve-se gradual e lentamente.
Não é uma mudança abrupta, da noite para o dia. Um coração que hoje arde em fervor pode, amanhã, sentir uma leve brisa de desinteresse, que se intensifica com o tempo, até se tornar uma fria apatia. Não passamos de diligentes e entusiasmados para indiferentes num piscar de olhos. Essa progressão lenta e sorrateira torna difícil o reconhecimento do perigo.
A indiferença atinge primeiramente o coração e a mente, antes de se manifestar em ações. A negligência na leitura da Palavra, a falta de oração fervorosa, o afastamento dos irmãos, tudo começa com um sutil desinteresse que, se não confrontado, se solidifica em inércia espiritual.
A Palavra nos adverte em Hebreus 2:1: "Portanto, devemos dar mais atenção às coisas que ouvimos, para que não nos desviemos." A versão King James, em sua nota de rodapé, expressa a ideia de que negligenciamos essas coisas e elas "escorrem como vasos que vazam". Gradualmente, lentamente, perdemos o que nos sustenta espiritualmente. Em dez anos, uma mudança completa pode ocorrer em nossa vida espiritual sem que sequer percebamos a sutileza da erosão.
B. É mais difícil ver o que não está sendo feito.
É mais fácil identificar pecados de comissão – aqueles atos evidentes como mentir, xingar, roubar ou beber. Até mesmo pecados de atitude, como ódio, luxúria, amargura, inveja, ciúmes e raiva, envolvem uma ação mental ou emocional que pode ser mais facilmente percebida.
No entanto, a indiferença se esconde naquilo que deixamos de fazer. É mais difícil enxergar a oração que não foi feita, a visita que não foi realizada, o estudo bíblico negligenciado, o serviço que não foi prestado. E ainda mais sutil é reconhecer que não nos importamos tanto quanto deveríamos, que não estamos tão envolvidos quanto poderíamos estar, que nossa dedicação é superficial e que nosso crescimento espiritual estagnou.
C. Nós nos concentramos em sinais/frutos – em vez do problema real.
Quando observamos os sintomas da indiferença – a ausência nos cultos, a falta de envolvimento nos ministérios, o conhecimento bíblico superficial –, tendemos a tratar apenas esses sinais. Pregamos sobre a importância da frequência aos cultos, incentivamos o estudo bíblico, mas, muitas vezes, não atingimos a raiz do problema.
O verdadeiro problema reside no coração (Provérbios 4:23; Mateus 15:19). A indiferença é uma questão do coração que perdeu o fervor, o amor e a paixão por Deus e por sua obra. Se curarmos a indiferença no coração, os sintomas inevitavelmente desaparecerão.
II. Suas Causas
Diversas são as raízes que alimentam a praga da indiferença.
A. Falta de temor a Deus.
O temor do Senhor não é apenas medo servil, mas um profundo respeito e admiração que nos leva a reverenciar sua santidade e poder. Envolve o medo de desagradar a Deus (1 Samuel 11:7; Salmos 119:120; Isaías 66:2; Hebreus 10:31; 12:29) e um reconhecimento reverente de sua majestade (Lucas 7:16; Jonas 1:9; Deuteronômio 28:58).
Aqueles que verdadeiramente temem a Deus são motivados a fazer o que Ele ordena (Deuteronômio 6:2; 13:4; 17:19) e a serem dedicados a Ele de todo o coração (Deuteronômio 10:12, 20; 31:12). A ausência desse temor abre espaço para a negligência e a indiferença.
B. Foco no mundo atual.
Quando nos envolvemos excessivamente com as preocupações e prazeres desta vida, a espiritualidade é deixada de lado. As ansiedades do mundo sufocam a Palavra em nossos corações (Mateus 13:22), e o amor pelas coisas presentes pode nos desviar do caminho da fé (2 Timóteo 4:10).
A prosperidade material, embora seja uma bênção, pode gerar uma perigosa tendência a nos esquecermos de Deus (Provérbios 30:8-9; Deuteronômio 6:10-12). Em tempos de paz e fartura, corremos o risco de nos tornarmos complacentes (Amós 6:1-6), e a riqueza pode nos levar a depositar nossa confiança nos bens materiais em vez de em Deus (Salmos 30:6).
C. Ignorância.
A ignorância da Palavra de Deus é uma força destrutiva para o povo de Deus (Oséias 4:6; Isaías 5:13). Essa ignorância pode surgir de diversas formas:
• Não fomos ensinados adequadamente (Mateus 28:20). Falhamos em discipular e nutrir espiritualmente os novos convertidos, deixando-os à deriva.
• Esquecemos o que sabíamos (Hebreus 5:11-12). A negligência contínua da Palavra leva ao esquecimento das verdades fundamentais.
• Ignoramos o que nos foi ensinado (Romanos 10:3, 17). A teimosia e a rebelião contra a verdade conhecida endurecem o coração e conduzem à indiferença.
Aquilo que não sabemos faz toda a diferença em nossa vida espiritual. Se não conhecemos os mandamentos de Deus, como podemos obedecer? Se não conhecemos o juízo vindouro, como podemos temê-lo? Se não conhecemos a verdade, somos facilmente levados ao erro (2 Pedro 3:16-18).
D. Suavidade.
Uma pregação suave, que busca apenas confortar e agradar os ouvintes, pode inadvertidamente alimentar a indiferença (Isaías 30:10). Uma mensagem que evita confrontar o pecado e desafiar o comodismo faz pouco para despertar o coração adormecido. A pregação meramente "positiva" pode fazer com que aqueles que vivem em pecado e são indiferentes à sua condição se sintam bem em sua ilusão.
A falta de "dentes" na mensagem, a ausência de correção, repreensão e disciplina quando não há arrependimento, contribui para a perpetuação da indiferença. Muitos até apreciam ouvir a verdade, mas nada é feito em relação a ela em suas vidas.
III. Seus Sinais
A indiferença se manifesta de diversas maneiras em nossas vidas e congregações.
A. Uma perda de zelo.
Pessoas verdadeiramente dedicadas a Deus possuem um zelo ardente por Ele e por sua obra (Romanos 12:11; Lucas 24:32). No entanto, é possível perder esse fogo do entusiasmo (Apocalipse 2:4-5). Judá permitiu que seu serviço a Deus se deteriorasse, tornando-se uma rotina cansativa (Isaías 29:9-14; Malaquias 1:6–2:17). Quando o serviço a Deus se torna um "tanto faz", um "nada demais", é um sinal claro de que o fogo se apagou e a indiferença tomou conta.
B. Perda de interesse espiritual.
Uma perda de zelo invariavelmente leva a uma perda de interesse pelas coisas espirituais. Há uma falta de desejo pela Palavra de Deus (Salmos 119; 1 Pedro 2:1-2), nenhuma vontade de estudar e compreender o significado das Escrituras. Há uma falta de preocupação com o pecado, tanto em si mesmo quanto nos outros (Provérbios 8:13), uma despreocupação com falsas doutrinas (Salmos 119:136) e uma falta de compaixão pelos perdidos (Marcos 16:15-16).
C. Ausentes.
A ausência nos cultos pode começar como algo ocasional, talvez permitindo que o trabalho ou outros compromissos interfiram. No início, pode haver um certo desconforto, mas logo nos acostumamos. Gradualmente, torna-se mais fácil perder os cultos, começando pelo estudo bíblico, o culto de quarta-feira, depois o domingo à tarde e, finalmente, o domingo de manhã. Cada serviço que perdemos representa uma perda de crescimento espiritual (Hebreus 10:25; Efésios 5:19). Se a presença nos edifica, a ausência nos enfraquece. Lembremos de Tomé, que perdeu o encontro com Jesus ressuscitado e duvidou (João 20:20-28). Devemos nos perguntar se estamos desistindo por motivos que estão sob nosso controle.
D. Consumido pelo interesse secular.
Esta vida é apenas uma terra pela qual estamos passando (Hebreus 13:14). As coisas seculares são temporárias e devem estar abaixo das coisas espirituais e eternas. Quando nossas preocupações seculares ofuscam e afastam as espirituais – quando não há tempo para o culto, para o estudo bíblico, quando ganhar dinheiro se torna mais importante e o lazer precede o serviço a Deus – somos tomados pela indiferença.
E. Não se incomoda com coisas que costumavam…
Há uma perda da sensibilidade espiritual. Pecados que antes nos afligiam agora são tolerados. A negligência da oração e da leitura bíblica não causa mais remorso. A frieza espiritual não gera mais preocupação (Jeremias 3:7-13).
F. Grande contraste com o que eu costumava ser.
Olhamos para trás e percebemos a distância entre o fervor de outrora e a mornidão presente (Gálatas 1:6-9; 5:7). Essa disparidade gritante é um forte indicativo da presença da indiferença em nossas vidas.
IV. Sua Cura
A boa notícia é que a indiferença não precisa ter a última palavra. Há cura e restauração para aqueles que desejam se livrar dessa praga silenciosa.
A. Pregar e Avisar.
O apóstolo Paulo declara em Colossenses 1:28 que o objetivo de sua pregação é apresentar cada homem perfeito em Cristo. "A ele pregamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo." A pregação da Palavra de Deus, acompanhada de advertência e ensino, é o remédio divino para a indiferença. O Evangelho tem poder para despertar corações adormecidos (Romanos 1:16). Não precisamos de truques, programas sociais ou entretenimento; precisamos da exposição fiel da Palavra de Deus.
B. Arrependei-vos.
As igrejas que foram confrontadas com a indiferença foram chamadas ao arrependimento (Apocalipse 2:4-5; 3:16, 19). Arrependimento é uma mudança profunda de mentalidade, motivada pela tristeza segundo Deus (2 Coríntios 7:10), que resulta em uma mudança de vida (Apocalipse 2:5). Se reconhecermos os sinais da indiferença em nossas vidas, precisamos nos arrepender sinceramente e buscar a restauração do nosso primeiro amor.
C. Estudo.
A fé genuína é fundamentada na Palavra de Deus (Romanos 10:17). Quanto mais estudamos as Escrituras, mais forte se torna nossa fé e mais somos capacitados a discernir a verdade do erro (2 Tessalonicenses 1:3). O estudo diligente da Palavra é um antídoto poderoso contra a ignorância e a indiferença.
D. Seja praticante da palavra.
Tiago nos exorta a sermos praticantes da Palavra, e não apenas ouvintes que se enganam a si mesmos (Tiago 1:21-25). Devemos ativar a fé que possuímos através da obediência (Tiago 2). Quanto mais exercitamos nossa fé, mais fácil se torna continuar no caminho da prática da Palavra e mais nos afastamos da inércia da indiferença.
- Pregação sobre a Língua: Contruir ou Destruir
- Pregação sobre A Morte na Panela: Lições de Crise, Obediência e Provisão Divina 2 Reis 4:38-41
- Pregação sobre A Mulher de Ló: Um Alerta Contra o Apego ao Pecado
Conclusão
Amados, a indiferença é uma ameaça real e perigosa para a nossa vida espiritual e para a saúde de nossas igrejas. Que possamos reconhecer sua sutileza, identificar suas causas e seus sinais em nossas vidas. E, acima de tudo, que busquemos a cura através da pregação fiel da Palavra, do arrependimento sincero, do estudo diligente das Escrituras e da prática constante da fé. Que o Senhor nos desperte do sono da indiferença e nos inflame com um zelo renovado por Ele e por sua obra. Amém.